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04 dezembro 2006

Desejo

É muito pouco
rimar desejo e beijo
neste jogo sedutor
de dentes, pele, boca

e pêlos.

Na luxúria dourada de seus dias
o beijo apenas traz de volta
os desejos primitivos,
inicia o ritual de
explosões e devaneios
que não tem hora nem lugar
pra terminar.


Criado em 12-09-05 sobre O Beijo, de Gustav Klimt, para Sentir - Verbo Intransigente

01 dezembro 2006

Mundo Virtual

Acabei de assistir no programa da Ana Maria Braga, na TV ligada ininterruptamente na redação, um papagaio de espuma conversando com uma mulher virtual, um holograma, um truque gerado pelos equipamentos de última geração da emissora. Para comprovar que não estava diante de uma pessoa real, ao encerrar a conversa com a convidada e deletá-la do cenário a apresentadora deu um boot no louro. Nunca tinha visto na TV brasileira o que acabei de ver e imagino o que isso possa vir a representar para os telespectadores usuais do programa. Soube agora que a mulher virtual é conhecida do grande público do Fantástico, então as pessoas não devem mais estranhar a personagem nem o fato de ela desaparecer de repente do monitor. Afinal, tudo na pequena tela é ilusão, e por que motivo não haveria de existir uma ilusão em bytes?

14 novembro 2006

Meus nascentes



Meus sóis também vão passando,
nascentes, poentes,
assinalando um vaivém de barco
na névoa dos meus dias;
um revezamento interminável
entre a perspectiva opaca
e a luminosa oportunidade perdida.

Poente, mergulha apressado
e nem me deixa ver o dia que acabou de passar.
Nascente, ele salta em dupla imagem
do lado oposto
no espelho d’água.

No calendário, mais um dia;
nos meus dias, mais uma chance de ser feliz.


Criado em 05-09-2005 sobre Impressões, sol nascente, de Claude Monet, para Sentir - Verbo Intransigente

09 novembro 2006

Entressafra


Há muito tempo não faço poesia como se faz um filho,
com tesão, criatividade e iluminação.
Há tempos não descubro a rima certa para a emoção!
Fico aí a desfiar um dicionário,
expondo conceitos,
dizendo esconder cartas do baralho,
apenas desenhando e colorindo versos
como se arco-íris fossem
a se enterrar em dourados potes.

Há muito tempo eu não faço poesia à luz do dia
conjugando o verbo criar.
Há tempos não me entrego à brincadeira de inovar!
Fico por aí fazendo cálculos
para não ultrapassar a métrica liberdade da expressão;
buscando escolas,
apenas encaixando rimas nos versos,
como se estrelas fossem
obrigadas a atravessar a madrugada sem pretensão.

Há muito tempo eu não descubro a poesia na janela
camuflada atrás de uma nuvem.
Há tempos não vislumbro a mágica ilusão!
Fico então a versejar um aguaceiro,
afogando mágoas,
confessando haver sempre um novo dia,
apenas enganando a fome de viver,
como se vaga fosse sobre o mar
a enterrar na areia garrafas vazias.


NÓS
Puxe o fio e experimente esta viagem!
Por trás deste emaranhado imaginário
existem mundos e fundos;
nós atrelados
nós, lado a lado;
nós, pronome conjunto - cumplicidade adjunta;
nós, substantivo ativo - atrelamento inevitável
.

Tudo pode neste rolo!
Inclusive (e principalmente)
desfazer os nós
por nós dois
Refazermos nós
nosso fio.

Só nós podemos achar a ponta desta meada
e ir desenrolando os nós,
só nós,
até que não haja nós substantivos
mas somente nós pronominais.
Só nós!



Poemas que integram a Coletânea do Prêmio Sesc de Poesia/2006




07 novembro 2006

CADERNO DE HAICAI



Como um pirulito
a lua ficou espetada
no galho do palmito

Me esqueço em você
desde que amanheço.De noite
me aqueço em seus sonhos.
o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o





Um minuto perdido!
Cem anos de solidão
e de inverno eterno
o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o


Quando amanheceu
o sol chegou mais perto
do destino meu!

o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o

No frio asfalto um beijo
aquece as longas sombras.
Amanhece agora!
o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o

No meu coração
já chega um perfume.

Brisa de verão.
o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o


A árvore balança.
Seu verde-amarelo vento
cheiro de brilho lança

o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o


Ipês rosa e branco
em Brasília já têm flor.
Eu aguardo o amarelo!


o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o

Inverno sem sol
inunda minha paisagem.
Lá fora, só chove.

o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o

Primavera atraiu
amarílis cor de fogo.
Arco-íris no jardim.

o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o


Sou pequeno frasco
Com um perfume precioso
A exalar amor


o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o

Verdes-luz em frestas.
A primavera florida
invade a floresta

02 novembro 2006

Poesia visual

Estou inaugurando minhas postagens no blog com a arte de Anish Kapoor, indiano radicado na Inglaterra há cerca de 30 anos, premiado pela sua insistência em transgredir formas e sensações. Suas esculturas e instalações demonstram o caráter ilimitado da manifestação artística e a relatividade da matéria e do espaço. Exemplo disso é Cloud Gate, fixada em Chicago e avaliada como a obra de arte de maior valor, em exposição - U$ 23 milhões. Assim como essa peça, toda obra de Kapoor é essencialmente tátil; mesmo que não seja tocada, cada peça provoca um apelo visual que leva o espectador, instintivamente, a procurar provar o que está vendo ou, pelo menos, tentar se situar no espaço, se assegurar que não está solto no vácuo como fumaça.