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14 novembro 2006

Meus nascentes



Meus sóis também vão passando,
nascentes, poentes,
assinalando um vaivém de barco
na névoa dos meus dias;
um revezamento interminável
entre a perspectiva opaca
e a luminosa oportunidade perdida.

Poente, mergulha apressado
e nem me deixa ver o dia que acabou de passar.
Nascente, ele salta em dupla imagem
do lado oposto
no espelho d’água.

No calendário, mais um dia;
nos meus dias, mais uma chance de ser feliz.


Criado em 05-09-2005 sobre Impressões, sol nascente, de Claude Monet, para Sentir - Verbo Intransigente

09 novembro 2006

Entressafra


Há muito tempo não faço poesia como se faz um filho,
com tesão, criatividade e iluminação.
Há tempos não descubro a rima certa para a emoção!
Fico aí a desfiar um dicionário,
expondo conceitos,
dizendo esconder cartas do baralho,
apenas desenhando e colorindo versos
como se arco-íris fossem
a se enterrar em dourados potes.

Há muito tempo eu não faço poesia à luz do dia
conjugando o verbo criar.
Há tempos não me entrego à brincadeira de inovar!
Fico por aí fazendo cálculos
para não ultrapassar a métrica liberdade da expressão;
buscando escolas,
apenas encaixando rimas nos versos,
como se estrelas fossem
obrigadas a atravessar a madrugada sem pretensão.

Há muito tempo eu não descubro a poesia na janela
camuflada atrás de uma nuvem.
Há tempos não vislumbro a mágica ilusão!
Fico então a versejar um aguaceiro,
afogando mágoas,
confessando haver sempre um novo dia,
apenas enganando a fome de viver,
como se vaga fosse sobre o mar
a enterrar na areia garrafas vazias.


NÓS
Puxe o fio e experimente esta viagem!
Por trás deste emaranhado imaginário
existem mundos e fundos;
nós atrelados
nós, lado a lado;
nós, pronome conjunto - cumplicidade adjunta;
nós, substantivo ativo - atrelamento inevitável
.

Tudo pode neste rolo!
Inclusive (e principalmente)
desfazer os nós
por nós dois
Refazermos nós
nosso fio.

Só nós podemos achar a ponta desta meada
e ir desenrolando os nós,
só nós,
até que não haja nós substantivos
mas somente nós pronominais.
Só nós!



Poemas que integram a Coletânea do Prêmio Sesc de Poesia/2006




07 novembro 2006

CADERNO DE HAICAI



Como um pirulito
a lua ficou espetada
no galho do palmito

Me esqueço em você
desde que amanheço.De noite
me aqueço em seus sonhos.
o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o





Um minuto perdido!
Cem anos de solidão
e de inverno eterno
o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o


Quando amanheceu
o sol chegou mais perto
do destino meu!

o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o

No frio asfalto um beijo
aquece as longas sombras.
Amanhece agora!
o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o

No meu coração
já chega um perfume.

Brisa de verão.
o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o


A árvore balança.
Seu verde-amarelo vento
cheiro de brilho lança

o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o


Ipês rosa e branco
em Brasília já têm flor.
Eu aguardo o amarelo!


o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o

Inverno sem sol
inunda minha paisagem.
Lá fora, só chove.

o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o

Primavera atraiu
amarílis cor de fogo.
Arco-íris no jardim.

o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o


Sou pequeno frasco
Com um perfume precioso
A exalar amor


o ~ o ~ o ~ o ~ o ~ o

Verdes-luz em frestas.
A primavera florida
invade a floresta

02 novembro 2006

Poesia visual

Estou inaugurando minhas postagens no blog com a arte de Anish Kapoor, indiano radicado na Inglaterra há cerca de 30 anos, premiado pela sua insistência em transgredir formas e sensações. Suas esculturas e instalações demonstram o caráter ilimitado da manifestação artística e a relatividade da matéria e do espaço. Exemplo disso é Cloud Gate, fixada em Chicago e avaliada como a obra de arte de maior valor, em exposição - U$ 23 milhões. Assim como essa peça, toda obra de Kapoor é essencialmente tátil; mesmo que não seja tocada, cada peça provoca um apelo visual que leva o espectador, instintivamente, a procurar provar o que está vendo ou, pelo menos, tentar se situar no espaço, se assegurar que não está solto no vácuo como fumaça.