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23 novembro 2013

Quem é o dono da mala?

Chegou em casa e encontrou no canto do seu quarto uma mala de tamanho médio, alça retrátil, toda preta com zíperes amarelos. Achou até que havia chegado algum parente de surpresa. Perguntou a todos da família que mala era aquela e de quem era a mala, mas ninguém soube dizer. Deduziu que quem havia deixado a mala ali era a empregada, que já havia ido embora.
No dia seguinte a resposta: “Veio um menino aqui entregar. Disse que a senhora deixou para consertar e que o dono da loja pediu para deixar aqui”. Ela ainda arrematou que estranhou porque nunca tinha visto aquela mala.
Mas a mala não era dela. A empregada não havia perguntado ao menino de que loja veio a mala e não havia qualquer informação, um papel, uma nota fiscal, nada, que pudesse indicar a origem da mala.
Resolvida a não querer aquela mala dentro de sua casa, decidiu descobrir o dono. Viu que havia um cartão de identificação com um nome escrito. Sabino! Só Sabino, mas já era um começo. Foi ao computador e vasculhou Sabinos pelas redondezas. Localizou um Sabino no bloco “J”, e ela morava no bloco “I”. Deduziu então que tinham confundido as duas letras manuscritas no cartão.
Anotou o endereço e foi até o bloco “J”, apartamento 213. Tocou a campainha e quem abriu a porta foi uma senhora de aparência pouco amigável. Pediu desculpas por ter ido até lá àquela hora e explicou a situação, mostrando a mala, depois de identificar a mulher como sendo a senhora Sabino.
“Tá pensando que sou trouxa, é? Gritou a mulher, ainda na porta da sala. Que história de mala é essa minha filha. O Gilson anda por aí com suas periguetes, esquece roupas e malas pelo caminho, e você ainda vem com uma história de conserto de mala?”
Puxou a mala para perto dela e bateu a porta sem dar tempo para qualquer reação. Certa que havia se livrado de um transtorno, voltou para casa e tentou esquecer o ocorrido. Antes do almoço, a campainha tocou insistentemente. Ao atender deu de cara com a senhora Sabino e um senhor ao lado, que depois soube ser o Gilson Sabino, e a mala.
“Ela veio lhe pedir desculpas”, adiantou-se ele. “Foi um grande mal entendido, porque esta mala não é minha e peço que a aceite de volta, para devolver ao verdadeiro dono ou à loja de consertos”.
Surpresa com a situação, insistiu que não ficaria com a mala, porque também não era dela e não queria se responsabilizar pelo objeto. Mas a cada argumento que apresentava, a mulher ficava mais nervosa e por fim passou a gritar dizendo que seu marido não era um mentiroso
“Você está querendo denegrir a vida dele. Me fez pensar que ele estava tendo um caso com você”, gritava a senhora Sabino, citando situações folhetinescas, absurdas, fora de qualquer lógica.
Quando a situação estava no limite máximo de surrealismo, apareceu um menino de olhos arregalados, ofegante por ter subido quatro andares de escada e que esboçou um grande sorriso ao olhar para a mala. Olhou para cada um de nós, pediu desculpas, e disse que estava ali porque o seu Antônio pediu para que ele levasse a mala de volta, antes que perdesse o emprego e a cabeça. “Foi isso mesmo que ele me disse”, reforçou. "Posso levar?"
CLARO!!!! Falaram os três ao mesmo tempo.
“Obrigado dona, e desculpa aí ter interrompido a prosa de vocês. Bom dia”, disse saltitante o menino. “Acho que vou descer de elevador, porque tô muito cansado”.
“Espera aí, nós vamos junto com você”, disse a senhora Sabino, entrando no elevador puxando o marido pela mão.